Santo Agostinho, comentando essa passagem do Evangelho de São João, pergunta porque Jesus se diz "o bom pastor", e responde ele mesmo a sua pergunta, dizendo:
"Não teria acrescentado à palavra pastor a qualidade bom, se não houvesse pastores maus" (Cfr. São Tomás, Catena Áurea, comentários ao Evangelho de São João, x, 11-13).
Mais ainda. Se Cristo deixa implícito de que há maus pastores, afirma explicitamente que há pastores assalariados, isto é, falsos pastores, pessoas que se apresentam como pastores e não o são.
Autêntico pastor é o Apóstolo escolhido por Cristo, e seus legítimos sucessores apostólicos, os Bispos da Igreja Católica, que tem a colaboração de seus vigários, canonicamente designados.
Entretanto, mesmo entre os legítimos pastores, há que distinguir, os bons, que imitam a Cristo, dos maus que exercem o seu mandato, não por amor a Deus, mas por interesses pessoais, mesquinhos.
Bons pastores são aqueles que, como Cristo, dão a vida pelas ovelhas que Deus lhes colocou sob sua guarda, repetindo-lhes, como um eco a voz de Cristo, isto é, a sua palavra, a sua doutrina , e o seu exemplo.
Bons pastores são aqueles que se deixam guiar docilmente pelo supremo pastor, o Santo Padre, o Papa, ensinando o que o Papa ensina, e obedecendo a tudo o que ele ordena.
Mau pastor, é o Bispo que, em vez de ensinar o que o Papa ensina, em seu ofício de Pastor supremo da Igreja, ou segue teologias espúrias, ou corre atrás do prestígio mundano, aderindo a filosofias em moda.
Mau pastor é aquele que busca apenas usufruir as comodidades, riquezas e prestígio de seu cargo, pouco se importando com a defesa das ovelhas, agindo como mercenário, e não como pai.
Distintos do bom pastor e dos pastores mercenários, Cristo aponta ainda alguns que se dirão pastores sem o ser:
"o mercenário e o que não é pastor, de quem não são próprias as ovelhas".
Parece, então, que Cristo profetiza que, no futuro, haveria alguns, que sem serem sucessores de seus Apóstolos, se arrogariam o título de pastores sem o serem.
E hoje, no Brasil, além de falsos pastores, há até quem se arrogue o título de Bispo sem jamais ter sido sagrado, sequer ilegitimamente.
Comenta São Gregório Magno que os bons e os maus pastores não se distinguem, quase, nos tempos de tranqüilidade, mas somente quando vem o lobo. Porque o bom pastor enfrenta o lobo, enquanto o mau o deixa agir livremente, ou foge dele.
Característica dos maus pastores e dos falsos pastores é que eles, não sendo realmente responsáveis ou senhores das ovelhas, que não são deles, pouco se importam de que venha o lobo e as devore. Em vez de imitar a Cristo, dando a vida por suas ovelhas, eles, buscam salvar-se egoisticamente, pouco se importando com a ação do lobo.
O mau pastor "vê vir o lobo, deixa as ovelhas, foge, e o lobo arrebata e faz desgarrar as ovelhas, porque é mercenário, e porque não se importa com as ovelhas".
Segundo São João Crisóstomo, Cristo distingue, pois, duas classes de maus pastores:
"um que rouba, mata e saqueia, e outro que não impede o mal, dando a conhecer no primeiro os sediciosos, e confundindo com o outro [tipo] os mestres dos judeus, que não tinham zelo algum pelas ovelhas que lhes estavam confiadas" (Cfr São Tomás, Catena Áurea, Comentário ao Evangelho de São João, cap. X, 14-21).
Evidentemente, por lobo, Cristo designa o demônio que, busca nos devorar pela heresia e pelo pecado. E o mal maior é o da heresia do que o pecado contra a caridade, porque. quem cai em heresia, não se manterá estavelmente na prática completa da lei de Deus, pois que toda heresia é sempre um pecado de orgulho do qual nascerão muitos outros.
E, no Brasil de hoje, quantas ovelhas se desgarraram nas últimas ecumênicas décadas, enquanto muitos maus pastores dialogam com os falsos pastores, que, de certa forma, fazem as vezes do lobo, confundindo os uivos deles com a voz do Bom Pastor por excelência, Cristo !
Por isso Cristo anuncia:
"Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem. Como o Pai me conhece, assim eu conheço o Pai"